Multiplex é uma reflexão sobre a complexidade e a perda. É sobre construções, vitórias, derrotas, pertença, e tudo aquilo que nos faz ser o que somos: a necessidade de estarmos onde estamos. É também sobre a perda de tudo isso. Sobre a memória do branco e a enevitabilidade do negro. Asombra.
Que palavras melhores do que as de Yourcenar, nas suas Memórias de Adriano, para nos falar desta mesma complexidade e da qual apenas ficam os fragmentos? Da obcessão pela perfeição mas também do peso da obra por construír e a responsabilidade do legado. Adriano confronta-nos a cada instante com esta dualidade: mesmo se o homem é livre, já a obra construída está para além desta liberdade. Aperda co- habita com a construção, o ajuste de
contas final é implacável.
É a complexidade do mundo interior de Adriano que me interessa. O mesmo mundo que fascinou Yourcenar, ela que nos lembrava que refazia por dentro o que os arqueólogos do sec XIX haviam feito de fora, ou ainda, que a melhor maneira de recriar o pensamento de um homem era reconstituir a sua biblioteca. Trabalhar sobre o tempo, sobre a memória... Como se os odores de Ítaca, das amendoeiras e das figueiras, estivessem sempre presentes. Como se todo um Sul permanentemente adiado, iluminasse uma vida de combates e negociações, longos invernos na lama fria do Norte ou intermináveis campanhas nos desertos da Asia Menor. Mas sempre como pano de fundo as colinas de Atenas.
Multiplex desenrola-se nesta complexa teia entre o preto e o branco, nesta inevitabilidade do negativo que espreita os momentos mais brilhantes das nossas existências: a necessidade de estarmos onde estamos.
€ 5,50
auditório
M/16 anos
» grupos + 10 pessoas, sénior +65 anos, jovem até 17 anos e cartão jovem municipal (20%)
foto: Mariana Silva